Você
pode não se lembrar disso, mas eu lembro. Mesmo que tenha sido rápido, mesmo
que a noite não estivesse com muitas estrelas, mesmo que eu não tenha sentido
aquela confusão na minha barriga porque eu estava mesmo era cheia de certeza.
Eu queria aquilo tanto quanto você, mesmo que você tivesse negado e tivesse
falado para seus amigos que aquilo nunca aconteceu. Eu sabia que sim, como
sempre soube das vezes que você me encarava no corredor da escola. Você é
do tipo que ama escondido, que pede fingindo, que sente mentindo e que foge
quando alguma certeza aparece. Então me diga, quando eu apareci, por que você
não fugiu?
Ah
meu querido, como aquele dia estava frio, tão frio quanto seus lábios antes de
encontrarem o meu. Depois disso, tudo era calor. Você chegou de leve, como quem
não queria nada, como quem queria tudo e achava que aquilo não era nada. Você
chegou procurando certezas e foi nos meus lábios que encontrou respostas.
O seu beijo foi calmo como o seu coração e conseguíamos acompanhar todas
as batidas colocando ritmo em nossos suspiros. Eu sabia que seu beijo era
diferente, sabia porque já havia experimentado ele outras vezes. Assim como
você também sabia que meu beijo era o único que conseguia te fazer vibrar.
Eu
só não entendia por que negava o amor que se escondia em nossos lábios.
Mas
isso não importava, o encontro sempre era duradouro. Às vezes rápido demais, às
vezes assustado demais, às vezes com uma certa urgência, uma pegada com mais
intensidade junto com um pedido de socorro. Seus lábios sempre estavam
gritantes para os meus, sempre a procura do encaixe perfeito. Eu não me
importava com a quantidade de tempo que se passava, você sempre voltava para
mim. Sempre me surpreendendo com seus gemidos abafados de quero mais, mas quero
pouco. Pois assim eu sabia, com isso, você sempre voltava e eu nunca me
entregava por completo. Queria vê-lo pedindo bis, queria vê-lo atrás de mim
como nessa noite. Queria saber que mesmo tentando, era comigo que você sempre
se encontrava.
Era
comigo que você ficava sem fôlego, que chegava a pensar em parar de fazer algo
tão “desnecessário” quanto respirar. Afinal, pra que controle quando te
tenho perto da minha boca?
A
nossa situação era tão incrível que mesmo depois do beijo, mesmo depois da
separação, nossos olhos ainda continuavam se beijando durante as encaradas. Era
quente, brilhante, vibrante, impuro e puro, uma mistura de perdição e carinho.
Uma dose de desejo e eternidade. Era perfeito, mas você não via. Você fugia
porque queria prender suas rédeas na solidão. Mas seus lábios… Ah… esses não
podem ser domados quando encontram os meus. E eu prometo, por meio desta carta,
que um dia ainda irei te domar com todo o meu amor.